sábado, 27 de junho de 2009

Dívida impede candidatura de parlamentares baianos


Parlamentares estaduais e federais baianos correm o risco de ter a candidatura inviabilizada para o ano que vem caso permaneçam com pendências diante do fisco. A questão se arrasta desde 2000, quando a Receita Federal decidiu cobrar Imposto de Renda (IR) sobre os valores recebidos pelas convocações extraordinárias e ajudas de custo dos então deputados estaduais na Legislatura de 1985 a 1989.

São cerca de 100 políticos nessa situação e, na época, o cálculo aproximado era o de que todos, somados, deviam cerca de R$ 6 milhões. Mas, segundo Graciliano Bonfim, procurador na Assembleia Legislativa (AL) e encarregado do caso na Justiça, os parlamentares podem ficar tranquilos porque até setembro a situação deverá ser resolvida, favorável ao Legislativo (leia ao lado). Bonfim estima que, corrigido, o valor chegaria a R$ 15 milhões.

A TARDE não teve acesso à lista dos parlamentares que podem ter problemas com suas candidaturas para 2010, mas atuaram na Legislatura de 1985 a 1989 políticos como o prefeito João Henrique Carneiro, a atual deputada federal Alice Portugal (PCdoB), o deputado federal José Carlos Araújo (PR), Nelson Pellegrino (PT), além de outros 15 deputados estaduais em exercício.

Indenização – O IR não era recolhido antes de 1985 – e atualmente também não é. Anos depois, em 2000, a Receita Federal entendeu que, naquele momento, o dinheiro recebido pelo deputado durante a convocação extraordinária e ajudas de custo teriam caráter remuneratório, portanto, passível de cobrança de tributo. Mas, do ponto de vista do Legislativo, trata-se de um dinheiro recebido de forma indenizatória, portanto, isento do imposto. A Receita Federal entendeu, depois, o caráter indenizatório, mas a questão dessa Legislatura específica não foi resolvida.

Na época em que foram autuados, vários deputados entraram na Justiça Federal contra a cobrança, obtendo liminares até que a matéria fosse decidida. Outros pagaram o débito e outros, ainda, entraram com processo para decidir a pendenga. Parte desses políticos ficou com o nome no Cadin – Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal, o que impede a pessoa de realizar qualquer operação de crédito como compra de automóvel e imóvel.

O presidente da AL era o atual deputado estadual Reinaldo Braga (PSL), que contratou escritório para dar apoio jurídico aos deputados autuados. Foram feitas declarações retificadoras, contando como pagamento dos tributos. Mas houve um equívoco: recolheram ao Estado e não à União, por isso a situação não foi resolvida.

Desde que assumiu em 2007, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo (sem partido), colocou nas mãos de Graciliano Bonfim a missão de dar um jeito na situação. Este começou uma peregrinação até as instâncias administrativas como Receita Federal, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e Ministério da Fazenda.

Ano passado, um parecer assinado pelo Procurador Geral da Fazenda, Luiz Inácio Adams, garantiu que o dinheiro recolhido pelo Estado relativo às ajudas de custo poderia ser tecnicamente contabilizado. Falta, portanto, garantir que o recolhimento sobre o dinheiro da convocação extraordinária também tenha parecer favorável.

A pendência atual é a do encontro de contas do Estado (o que já foi recolhido nas declarações retificadoras) e da Receita Federal. Resolvido isso, aqueles que pagaram terão direito de pleitear a restituição. “Esta é uma causa que abracei com dedicação porque sou professor de direito tributário e estou convencido que foram injustamente autuados (os parlamentares). Houve uma interpretação errada”, diz o procurador. Para o presidente da AL, a situação “é um absurdo. É uma injustiça”.

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